A Mosca: (ODS-1: Erradicação da Pobreza) em PDF
APRESENTAÇÃO
Carlos Paulo Matias nos conduz a uma reflexão profunda sobre a fome, revelando-a como um fenômeno que transcende a mera falta de alimento e adentra o território da dignidade humana. Este é o segundo volume de uma coleção composta por 18 obras, cada uma dedicada a explorar uma das 17 ODSs propostas pela Agenda 2030 da ONU. Em A Mosca, alinhado ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 1 (ODS-1), que busca erradicar a pobreza em todas as suas formas, o autor mergulha em questões estruturais e filosóficas, explorando a responsabilidade coletiva, as limitações impostas pelas desigualdades e o impacto devastador da ausência de escolhas na vida dos mais vulneráveis. Para Matias, a fome não é apenas uma questão de necessidade biológica, mas o sintoma de falhas estruturais profundas em nossa organização social e econômica.
Em suas reflexões sobre a condição humana, Matias destaca que a dignidade está intrinsecamente ligada à capacidade de agir e participar da vida coletiva. No entanto, a fome desumaniza, privando os indivíduos dessa condição essencial e relegando-os à luta pela sobrevivência. Essa situação não apenas limita o corpo, mas também inibe o engajamento pleno na esfera pública e na vida comunitária. O autor utiliza essa perspectiva para criticar as bases de uma sociedade que, em nome da eficiência econômica, abandona milhões à margem da dignidade e da participação social.
O autor aprofunda a discussão ao abordar a fome como um instrumento deliberado de dominação, sustentado por estruturas econômicas e políticas que perpetuam a desigualdade. Matias argumenta que a fome, longe de ser uma consequência inevitável, é frequentemente utilizada como um mecanismo de controle social, silenciando vozes, apagando histórias e restringindo futuros possíveis para comunidades inteiras. Nesse sentido, a fome é uma forma de violência sistêmica que reforça relações de poder desiguais e aprofunda os ciclos de exclusão.
Uma das questões centrais do texto é a crítica à “dor das escolhas” – ou à ausência delas. Decidir entre alimentar-se ou investir na educação dos filhos é um dilema que expõe a brutalidade da fome, desumanizando as pessoas ao reduzi-las a uma luta básica pela sobrevivência. Matias denuncia como o sistema neoliberal transfere a responsabilidade das desigualdades estruturais para os indivíduos, culpabilizando-os por condições que são fruto de décadas de exploração e negligência institucional. Essa lógica perpetua um ciclo de exclusão e reforça o mito da meritocracia, mascarando as reais dinâmicas de poder que sustentam a pobreza.
Ao evocar Eduardo Galeano, Carlos Paulo Matias conecta o debate contemporâneo com as veias abertas da América Latina, destacando como a fome reflete um sistema econômico global projetado para enriquecer poucos às custas de muitos. Galeano denunciou estruturas históricas de poder que utilizam a fome como ferramenta de dominação, perpetuando ciclos de pobreza e dependência. Matias expande essa análise, defendendo que a fome, enquanto questão ética e política, demanda mais do que medidas paliativas. É necessária uma transformação radical das estruturas econômicas e sociais que alimentam a desigualdade global.
O autor também dirige críticas contundentes às vertentes políticas, que, segundo ele, demonstram uma incapacidade crônica de refletir sobre questões estéticas, históricas e geoeconômicas. Matias argumenta que esses grupos políticos simplificam problemas complexos, reduzindo debates estruturais a slogans populistas que obscurecem as causas reais da pobreza e da fome. A falta de sensibilidade estética – entendida como a capacidade de apreender a profundidade das questões humanas e culturais – reforça essa limitação, resultando em políticas imediatistas que ignoram as dinâmicas globais e locais que perpetuam a desigualdade.
Não por acaso, Matias se inspira em Bob Marley para trazer ao debate a força cultural e emocional da resistência à opressão. Referências ao filme biográfico de Bob Marley e à canção One Love evocam a música como um instrumento de luta, esperança e solidariedade. Marley nos ensina que enfrentar a fome exige mais do que políticas paliativas: é preciso transformar as estruturas de dominação e restaurar a dignidade e a autonomia dos indivíduos. A biografia do artista emerge no livro como um símbolo de resiliência e inspiração para superar sistemas opressores.
A Mosca é, assim, um chamado urgente à reflexão e à ação. Carlos Paulo Matias combina análise filosófica, crítica social e narrativa poética para oferecer uma obra que transcende a denúncia. Ele convoca o leitor a reconhecer a fome como um reflexo das escolhas – ou omissões – coletivas que moldam nossa sociedade. Mais do que um diagnóstico, o livro é um manifesto pela construção de um mundo mais justo, no qual a erradicação da pobreza não seja apenas uma meta, mas um compromisso ético inegociável.
Luiz Paulo Matias
Me. em Filosofia – Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS.
Doutorando em Educação – Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.
Imaruí, 25/01/2025
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